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quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

2° MIAU - Festa de abertura esse sábado, dia 24


Notas sobre o 1° MIAU - por Carlos Cipriano,mediador do debate com os realizadores / exercício de crítica livre do MIAU. - do site do festival - http://www.mostramiau.com.br
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Notas sobre o festival
O MIAU instalou-se proveitosamente no centro de Goiânia, em estréia bem sucedida ao mostrar que é um festival organizado e articulado, que consegue congregar cinéfilos, realizadores, curiosos e principalmente estudantes universitários ligados à produção audiovisual na cidade. Os universitários de diferentes cursos e instituições compareceram do modo como sempre comparecem nos festivais já estabelecidos por aqui: dando uma força no apoio, atuando nas oficinas, trocando experiências, fazendo contatos, assistindo filmes e participando dos debates. No debate que veio depois de uma sessão à tarde, problematizou o cinema universitário, buscando caracterizá-lo. Entre os comentários sobre uma possível “poética da precariedade”, supostamente presente na maioria das produções - quando o baixo orçamento impõe limitações que podem instigar a imaginação dos realizadores universitários atentos às possibilidades do acaso e do improviso, ao encontro de soluções criativas - e a crítica feita pela cineasta Biah Werther aos jovens sem pensamento crítico e posicionamento político, com suas produções “umbilicais”, restou algumas certezas: que o cinema universitário é aquele feito pelos estudantes das faculdades, que não é restrito aos cursos de cinema e audiovisual, que é extremamente diverso para ter uma estética comum. Seus filmes estão por aí, competindo entre si em festivais voltados para a categoria, como o MIAU, o Perro Loco, o Putz, o Nóia, o FBCU, ou de igual para igual com as produções supostamente “profissionais”, nas demais mostras e festivais.
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A diversidade do universitário nordestino
“Amanda e Monick”, de André Pinto (UEPB), é um documentário sobre a vida de dois travestis que vivem no interior da Paraíba. Longe de chorar os inevitáveis conflitos que certamente existem no convívio com uma sociedade tradicionalmente machista, os travestis nos contam uma história de aceitação. Um deles é professor, visivelmente competente, destes que cativam seus alunos, e o curta procura mostrar que é possível superar o preconceito em sala de aula. O pai do rapaz, sentado ao seu lado num banco de praça, confessa à câmera que sempre desconfiou das tendências do filho e jamais o repreendeu. E aconselha aos pais: é preciso dar apoio. O outro travesti faz programa e, surpreendentemente, mantém um relacionamento feliz com uma mulher homossexual, que ele engravidou por um “acidente de percurso” - daí a união. Feliz, ele conta que ele será a mãe e ela será o pai. Ninguém na platéia deixa de reagir a um filme como “Amanda e Monick”, que inverte tanto os valores das relações tradicionais a ponto de chocar as mentes mais caretas e conservadoras. O contraponto é sem dúvida sua maior contribuição, pois o filme deixa uma sensação de que aquela experiência de transgressão se dissolve na harmonia familiar daquelas pessoas - coisa rara na maioria das famílias.
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As animações das Minas Gerais
Os curtas “Lúmen” e “Crisálidas” foram os melhores representantes da categoria animação. “Lúmen” tem um humor bem dosado, um enredo curto e de boa sacada, no qual um boneco-inventor com cabeça de lâmpada tem uma idéia que parece ser a solução para os problemas com os insetos atraídos pela luz, que atrapalham constantemente o seu trabalho. Feito em stopmotion, “Lúmen” é um trabalho muito bem lapidado da Escola de Belas Artes da UFMG, com direção de Willian Salvador. “Crisálidas”, também da UFMG, dirigido por Fernando Mendes, é semelhante a um pesadelo e foi inspirado na cantiga infantil da “borboletinha na cozinha fazendo chocolate para a madrinha”. A técnica de animar fotografias de atores reais e colocá-los em movimento altera a percepção do tempo, dando um clima sinistro à narrativa, nada linear, da menina que vive trancada em casa com a madrinha e dá asas à fantasia e à imaginação.

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