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quinta-feira, 24 de julho de 2008
Terceira Parte - Entrevista com Victor-Hugo Borges
11) Como foi que vocês chegaram a Gianfrancesco Garnieri para narrar o filme?
Encontramos seu agente e pedimos para mostrar pra ele o roteiro. Na época ele estava doente, mas gravava uma novela da Globo (Belíssima). Ele leu o roteiro e disse que queria fazer, que queria estar bem consigo para gravar e para que esperássemos. Meu primeiro contato com ele foi um tanto doloroso, porque ele parecia extremamente frágil e consumido. Cada gesto dele parecia que necessitava de um esforço sobre-humano. Ao mesmo tempo, passava uma generosidade e grandiosidade que transformava todos em sua volta em espectadores dos seus gestos e palavras. Ele não quis receber pelo trabalho e me deu a entender que o que eu fazia era muito necessário e trazia beleza pra vida de pessoas como ele.
Foi muito intenso trabalhar com o Guarnieri, porque pra mim a voz tinha que ser dele, pois algo que eu buscava da minha infância parecia ter sido embalado por aquela voz. Eu me preocupei em buscar na minha infância coisas poderosas, como a poeira contra a luz do sol voando pelo ar, coisa que hoje tenho mais dificuldade de enxergar, mas que naquela época eu via o tempo todo.
12)Ícarus teve uma boa aceitação em festivais? O filme já recebeu muitos prêmios? Quais? Como foi isso para você?
Icarus teve uma aceitação muito boa, participou de praticamente todos os festivais que foi enviado. Mas não recebeu muitos prêmios. Ele não tem muito esse perfil de "Boom". É um filme menos "imediato". Tenho filmes que me deram dinheiro e prêmios, tenho quase 50 prêmios no meu currículo. Mas com o Ícarus, a resposta foi mais emocional e menos "prática", isso deve significar algo.
13)O que você pensa da linguagem do curta-metragem? Você acha que é uma produção que tende a crescer, ou a acabar?
Acho que a experimentação cinematográfica depende do curta. As pessoas não têm a mínima noção de como é complexo fazer um longa e o quanto é quase impossível se manter autoral nesse meio. Por culpa da preguiça do público e da necessidade de resposta financeira. Um longa é um filme que muita gente muda, põe a mão, gente que não tem a menor sensibilidade estética e vontade de passar algo, mas que acha que sabe o que pode dar o retorno para investidores e patrocinadores. É mercado, simples. O curta te dá essa possibilidade de se expressar sem essa pressão e também, pode dar retorno, é uma mídia quase sempre cheia de credibilidade.
14)Quais são os seus próximos projetos? Alguma outra animação em vista?
Logo devo lançar outro curta em animação chamado "O Menino que Plantava Invernos", e se tudo der certo, até o fim do ano mais uma chamada "Tristesse Robot". São filmes que eu mudei a postura de produção pra voltar a ser mais auto centrada, mais independente e autoral que nunca. São exercícios novos, gosto de mudar. A gente precisa sempre de novos sentidos pra vida.
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