PESQUISA MATÉRIA:

terça-feira, 1 de julho de 2008

Primeira Parte - Entrevista com Vera Egito

Vera Egito - Diretora de Espalhadas pelo Ar
Sobre a produção do filme - curta-metragem premiado no Cinesul 2008 - trailer:


1) O que motivou você a fazer de Espalhadas pelo Ar um filme tão voltado para o universo feminino?

O filme começou com a imagem das meninas fumando de calcinha e sutien nas escadas de emergência de um prédio. Uma amiga havia me dito que fazia isso com treze anos e não pude deixar de pensar que isso era a cena de um filme. Chamei Carolina Ziskind, minha amiga e colega de sala na ECA, para desenvolver uma estória a partir dessa imagem e aí nasceu o Espalhadas pelo Ar.
Sobre o fato de retratar o universo feminino, não sei muito bem o que explicar, porque não vejo isso como algo incomum, digno de esclarecimento. Acho que a maioria das estórias tem como personagens principais figuras masculinas por que a maioria dos autores é homem. E é muito natural escrever sobre o próprio universo. Imagino que a medida que mais mulheres autoras entrem em cena, mais comum será vermos mulheres como protagonistas de estórias. Claro que isso não é uma lei. Um dos meus próximos projetos tem como protagonista um menino de dezoito anos. Talvez ele seja um menino com um universo feminino. Não acredito que possamos fugir de nossa referencias pessoais quando criamos.

2) Como foi a produção do curta? Como foi o processo para conseguir realizar o filme em parceria com a Ioiô filmes e etc?


Todo ano o Departamento de Cinema, Rádio e TV da ECA-USP produz um curta-metragem em 35mm como trabalho de conclusão de curso de um aluno ou de um grupo de alunos. Passamos um semestre analisando os projetos em sala de aula até que, ao final do processo, a comissão de Professores escolhe qual roteiro será realizado. Em 2006, o Espalhadas pelo Ar foi o projeto eleito. A equipe é feita essencialmente por alunos do Audiovisual da ECA, sendo os chefes de equipe pertencentes ao ano em formatura. O projeto foi meu trabalho de conclusão de curso. Foi filmado em janeiro de 2007 e estreou no mesmo ano, em novembro, no Festival de Brasília.
A Ioiô Filmes entrou no projeto algumas semanas antes da filmagem. Eu enviei o roteiro ao Lorenzo Giunta, sócio e Produtor executivo da Ioiô, e ele me respondeu dizendo que tinha interesse em participar da produção. Como naquela altura já tínhamos câmera, negativo, equipamento de luz e locações, tudo fechado a partir de acordos de parceria entre a ECA e empresas colaboradoras, a Ioiô entrou como co-produtora. A participação da Ioiô foi essencial especialmente na finalização e distribuição do filme. Eles acreditaram no trabalho daquela trupe de estudantes e os meus próximos dois filmes serão feitos lá. É uma parceria muito legal.

3) Você acha que as personagens femininas são mais fortes do que as masculinas, e que por isso é mais interessante criar uma protagonista mulher? Você acha, que como mulher ela tem mais a dizer?

Acho que é mais ou menos o que eu disse na primeira questão. Acho o ser humano o assunto mais interessante que existe. Homens e mulheres. O Espalhadas fala de mulheres por que era essa a estória que devia ser contada naquele momento. Acho que como autora eu tenho propriedade para falar no tema mas acho que isso não é uma regra. Penso agora em Almodóvar e Bergman e sinto que no fundo esse sexismo é uma bobagem. Todos temos capacidade de falar sobre experiências humanas independente do gênero a que pertencemos.
Claro que, como mulher, gosto de ver estórias femininas na tela pelo simples prazer da identificação. Mas entre os personagens que mais me marcaram na vida estão, sem dúvida, tanto homens quanto mulheres.