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segunda-feira, 23 de junho de 2008

Entrevista - Mikael Santiago (jurado)


Mikael acha que o festival é bom para quem é da área cinematográfica e pode assistir a filmes que normalmente não entram no mercado comercial. E que é muito bom também para quem não é da área e pode fugir um pouco o olhar da televisão e das novelas e assistir a uma programação alternativa que explora uma linguagem não tradicional. Mikael preza pelo experimental, uma linguagem que busca uma maior liberdade, que deixa um pouco de lado as amarras do mercado. E a experimentação pode estar presente em uma cena, em apenas um plano, ou no modo de se contar a história. O filme não necessita ser inteiramente experimental para inovar de alguma forma. Ele precisa sair dos paradigmas para ser diferente. E assistir a filmes diferentes, faz você refletir na sua própria obra e sair da mesmice.
O futuro, como cineasta, para Mikael parece assustador, pois quanto mais ele trabalha na área, mais conhece bons profissionais e pessoas entrando na faculdade de cinema. Nesse momento ele se pergunta: “Para onde vai essa gente toda?” Mas por outro lado, pensa que isso também é positivo, já que, só com a quantidade se chega à qualidade.
Sobre o cinema brasileiro, ele diz que cinema de qualidade nós possuímos, porém o que nos falta é espaço no mercado, completamente tomado pelo cinema estrangeiro. Ele diz ser mais uma questão dos filmes e de seu potencial de mercado, pois temos filmes brasileiros com o mesmo potencial de mercado de alguns filmes estrangeiros que ocupam várias de nossas salas (que já são poucas – ele ressalta). Como no caso do filme Sex and the City, que está em todos os cinemas, e que para Mikael tem o mesmo potencial de mercado de filmes brasileiros como o filme Sexo, Amor e Traição, que teve uma distribuição muito menor. Ele se questiona porque o cinema brasileiro não assume esse mercado, já que temos uma produção de qualidade equivalente a estrangeira.

Um comentário:

Mikael Santiago disse...

Olá a todos!

Acabei achando o blog por acaso e resolvi comentar pra esclarecer algumas coisas. A iniciativa do blog é muito legal e já parabenizo de antemão.

Bem, não devo ter expressado de forma clara o meu ponto de vista no dia da “entrevista”. Não me dou muito bem com esse tipo de coisa, vide minha cara na foto.

Brincadeiras à parte, sei que uma compilação se torna necessária, como forma de resumo, para que a postagem de um blog nao tome tanto tempo de seus leitores.

De qualquer forma, o fato é que uma compilação, um resumo, a edição, pode omitir nuances que se fazem necessárias em determinadas ocasiões, principalmente se tratanto desse assunto tão delicado, subjetivo e amplo: a arte. Cinema, mais especificamente.

Fiquei com a impressão de que, na postagem, pareço uma pessoa com idéias arrogantes e radicais.
Enfim, o que eu acho é o seguinte:

No Brasil, festivais funcionam como janelas importantíssimas para a revelação de novos (e velhos) talentos, para o reciclo de um “mercado” inóspito, para dar frescor ao público interessado.

Festivais, supostamente (não dá pra ser tão absoluto), com a exibição, oficinas e etc, suportam e estimulam a produção de filmes com propostas estéticas e de linguagens variadas, que, afinal, representa parte de um conjunto que favorece o desenvolvimento de uma cinematografia sadia.

E é claro que filmes, digamos, “para o grande público”, também contribuem para essa saúde. Mas é que esses filmes têm outros espaços e janelas.

Correção: eu nao prezo pelo experimental. Eu prezo pelo bom senso, por bons filmes, pela não subestimação do público. Se tratando de filmes “experimentais” ou com narrativa clássica.

E, opa, nao é SÓ com a quantidade que se chega a qualidade. Pode ser até verdade que as chances de se conseguir bons filmes, quando se faz mais filmes, aumentam. Mas não acredito que sejá SÓ assim que se chega a qualidade. Se chega com planejamento, espontâniedade, estrutura, estudo, apoio, tempo, público e paixão pelo o que se faz.

Outra observação: Não acho que temos uma produção de qualidade equivalente a estrangeira, porque não acho que uma comparação dessas quer dizer alguma coisa, na verdade. Temos nossa produção, com falhas e acertos, não devendo nada a ninguém, simplesmente.

Pulando a etapa de produção, (que daria outro bate-papo)o fato é que em nosso país se tem uma difusão de filmes deficiente, precária. E até certo ponto, parte da culpa é dos próprios realizadores mesmo (como disse, deixo essa parte pra outra ocasião).

Agora, nem 10% dos filmes que estão em cartaz hoje são nacionais, e isso é um absurdo. Não por se tratar simplesmente de filmes nacionais, como se fosse algum tipo de obrigação exibí-los, digo por critério de qualidade mesmo. Alguns filmes realmente bons são produzidos por aqui ao ano, e poucos conseguem participar do circuitão comercial para apreciação do “grande público”, graças ao esquemão industrial e monopólico de exibição de filmes estrangeiros. Filmes muitas vezes com potencial de mercado equivalente a alguns dos nossos. Uma pena.

Mas ainda bem que podemos assistir algumas coisas boas em festivais por aí, né nao?!