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quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Segunda Parte - Entrevista com Rafael Saar

Foto do filme Depois de Tudo - na foto Ney Matogrosso e Nildo Parente


Segunda Parte da entrevista com Rafael Saar, diretor do curta Depois de Tudo.

BC - Foi complicado dirigir um ator tão experiente como Nildo, e uma personalidade tão conhecida como Ney? Fale um pouco sobre essa experiência.

"Dirigir atores experientes não é complicado quando você sabe e consegue mostrar exatamente o que quer fazer. A partir daí, e foi assim no meu caso, eles puderam acrescentar o máximo naquela proposta. É muito importante esse posicionamento do diretor e dos seus objetivos para os atores. Ney quis saber sempre tudo que estava se passando desde a pré-produção, passando pela filmagem, o posicionamento da luz, etc, até hoje, na repercussão do filme."

BC - Qual é o significado do móbile de pedras azuis no curta? Era mesmo uma referência ao “A Liberdade é Azul”? Se sim, qual é a relação entre os dois filmes?

"O móbile de pedras azuis é uma referência clara visual ao filme do Kieslowski. Foi um objeto que construímos antes da idéia do meu filme, e que no “A liberdade é azul” é o objeto que ela carrega da antiga casa de sua família. Para mim é como se quando ela tem contato com o móbile, muito do que se passou antes daquilo tudo vinha à cabeça dela. No “Depois de tudo”, ele representa, assim como outros objetos ao longo do filme, um elemento sensorial, tátil e visual, de subjetivação do personagem do Nildo. São momentos prolongados, e que a intenção era deslocar aquele personagem do que estava acontecendo no momento presente."

BC - O que você quis dizer com o título do filme “Depois de Tudo”, o que seria esse tudo?

"“Depois de tudo” é depois de muita coisa ter acontecido. Ou seja, aquilo não aconteceu apenas naquele dia, mas acontece sempre, e há muito tempo."


BC - A produção recebeu patrocínio de algum lugar, ou foram vocês mesmos que bancaram o filme?

"Tivemos apoio de uma ONG que cedeu os equipamentos e o resto foi todo bancado por mim."

BC - Como você vê o mercado do curta-metragem no Brasil?

"O mercado de curtas-metragens ainda é muito pouco desenvolvido, principalmente no que se refere às políticas públicas. Cada vez mais se produz, e pouco se exibe. Infelizmente é impossível se viver fazendo cinema, e principalmente curtas-metragens. As políticas de incentivo, o público e o próprio realizador ainda vê o curta-metragem apenas como um passo necessário para se chegar ao longa-metragem, como se fosse um status inferior."

BC - Quantos curtas você já dirigiu até agora? Como acha que sua experiência como diretor foi amadurecendo? Você vê coisas nos seus primeiros filmes que não faria novamente se os filmasse hoje?

"“Depois de tudo” foi o sétimo curta que dirigi, escrevi e montei. Acho que o amadurecimento vêm com a experiência de se fazer cinema e ver filmes. Poder estudar e trabalhar com música, teatro, pintura também foi fundamental para este amadurecimento. Hoje eu não faria o que fiz daquela forma, mas principalmente não faria os filmes que fiz (os primeiros). De outro lado, só posso fazer hoje algo diferente porque já fiz daquela forma."

BC - O que você pensa sobre os festivais de cinema no Brasil? Você acha que eles são excessivos?

"É importante que existam muitos festivais, não há outra forma de se exibir os curtas-metragens. Mas ainda acho que os muitos festivais ainda precisam se desenvolver para que o público também cresça e se diversifique. Para que o público destes festivais não seja sempre o mesmo, e principalmente para que não se exibam sempre os mesmos filmes, dos mesmos realizadores."
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Leia também matéria sobre o filme que saiu no site do Terra:

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