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quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Pausa para o longa - ÚLTIMA PARADA 174

Foto do filme: Última Parada 174 - de Bruno Barreto

Na última quinta-feira, dia 17 de outubro o BLOG CURTAS participou da cabine de impressa do filme “Última Parada 174” de Bruno Barreto. Confesso ter ido à sessão com uma pré-disposição para não gostar do filme. Por alguns motivos: O filme aborda uma história que já havia sido muito bem contada no documentário de José Padilha, “Ônibus 174”; achava um tema desgastado pela mídia; era a repetição da abordagem violência e pobreza no cinema brasileiro; e definitivamente concorrendo com filmes como “Mutum” a ser candidato à indicação ao Oscar, não fiquei feliz com a escolha de “Última Parada 174” como representante brasileiro. Enfim, o que eu acho interessante ressaltar na crítica é que, de modo geral, gostei do filme. E me surpreendi com isso. Não é o meu filme brasileiro preferido do ano, mas é um bom filme. O trabalho com os atores é impressionante, pois desde o elenco de base até os protagonistas, transmitem ao público muita realidade. Uma das coisas que me chamou mais atenção nesse trabalho foi a transformação da personagem que faz a mãe de “Alessandro”. No início do filme, ela vive uma cena forte, em que o traficante toma seu bebê, pois ela não tem o dinheiro que lhe deve. A passagem da mulher completamente largada e drogada, que deixa o morro apenas com a roupa do corpo, para a mulher devota e trabalhadora em busca do filho, é realmente impressionante. Por um momento nem notei que era a mesma personagem/ atriz. O trabalho com os protagonistas é igualmente bem feito. Como Marcelo Mello Jr. (Ale Monstro) e Michel Gomes (Sandro) nos contaram depois da sessão, a criação das personagens aconteceu através de muita improvisação e construção das falas em conjunto (atores e roteirista). O que, na minha opinião, fez o filme crescer bastante, e adquirir uma verossimilhança, que seria mais complicada caso o roteirista trabalhasse sozinho. A edição do filme que mostra a vida de Alessandro e Sandro em paralelo constante é também interessante. Deixa o filme menos pesado e faz o público conhecer um pouco a vida dos dois personagens num primeiro momento separadamente, e depois quando eles se encontram. A última seqüência do filme – o seqüestro do ônibus – foi bem pensada em termos de estética, a alteração da imagem na hora de mostrar o ônibus, uma imagem com qualidade inferior à obtida pela película, se aproximando mais das câmeras de televisão, faz desse momento uma boa reconstituição do acontecimento real. É nessa seqüência também o clímax da interpretação de Michel (Sandro), que está completamente ensandecido e alterado. Exatamente como eu me lembro, por ter acompanhado pela TV, do Sandro real no dia do seqüestro. Mas duas coisas me preocupam em “Última Parada 174”. Primeira: o roteiro de Bráulio Montovani, é recheado de personagens e situações fictícias. Por um lado, acho que isso mostra como o trabalho de criação de Bráulio foi bem feito. Porém, por outro, é perigoso para o público que não conhece a vida do protagonista, a não ser o fato dele ter sido o seqüestrador do ônibus, e pode tomar o filme como a história real de Sandro. E não é. “Última Parada 174” é um filme de ficção e não uma realidade ficcionada. Acho que de alguma forma isso deveria ficar mais claro. A segunda coisa que me preocupa no filme é o final. Para quem acompanhou o seqüestro e o desenrolar dos acontecimentos, sabe qual é a versão mais aceita dos fatos que se sucederam à descida de Sandro do ônibus. Quanto a isso o que me desagrada é a opção de fazer uma reconstituição “politicamente correta” do desfecho da história, quando a versão de conhecimento geral é outra. Bom, mas isso são detalhes, o filme me ganhou pelos atores, pela edição e pelo enredo muito bem amarrado e capaz de prender o espectador. Ou seja, um filme que vale a pena ser visto no cinema. "Última Parada 174" estréia nessa sexta-feira, dia 24 de outubro.

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